Cuidados básicos com a saúde no Carnaval
- Paulo Oliveiraa
- 23 de fev. de 2017
- 5 min de leitura

O Carnaval já dita o tom da programação Brasil afora. Mas, para curtir os blocos de rua, bailes, ensaios e desfiles de escolas de samba e trios elétricos, de agora até a quarta-feira de cinzas, é preciso bem mais que disposição. A médica e coordenadora do Centro Brasileiro de Medicina do Viajante (CBMEVi), Flavia Bravo (CRM: 5249728-9), dá as dicas para quem só quer boas lembranças das folias de Momo.
“Estar com as vacinas em dia já é uma grande vantagem. Elas oferecem proteção a doenças de fácil transmissão”, garante Flavia. São exemplos: hepatite A (transmissível pelo sexo oral, água e alimentos contaminados); hepatite B (a transmissão se dá pelos fluidos corpóreos, como sangue e sêmen e, por isso, o sexo sem uso de preservativo deve ser evitado); HPV (também sexualmente transmissível e, neste caso, a camisinha não é garantia de proteção); tétano (causado por ferimentos na pele provocados por objetos cortantes ou perfurantes contaminados pelo agente infeccioso). “Nesse rol estão, ainda, doenças controladas no Brasil, mas que podem ser transmitidas por turistas estrangeiros. O sarampo é uma delas”, explica.
Conheça outras dicas da médica do Centro Brasileira de Medicina do Viajante:
Dengue, zika e chikungunya As epidemias de dengue, zika e chikungunya já se espalharam para boa parte do território brasileiro. A área mais afetada pelo zika vírus é o nordeste, que costuma receber grande quantidade de turistas do país e do exterior nessa época do ano; já a dengue acometeu mais de 1,5 milhões de brasileiros no último ano, principalmente no sudeste e centro-oeste. Por serem transmitidas peloAedes aegypti, a melhor forma de prevenção das três doenças é eliminar os focos de reprodução deste mosquito, mas como esse controle é muito difícil, Flávia recomenda atenção redobrada: “O uso do repelente é indispensável, principalmente por grávidas e crianças. Nesses casos, é importante buscar a orientação do obstetra ou pediatra. A reaplicação de acordo com o tempo de permanência da substância na pele também é necessária”, orienta. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou produtos com um dos três princípios ativos de repelentes contra o mosquito: IR3535, que tem proteção de 4 horas; DEET, que mantém o efeito de 6 a 8 horas (dependendo da concentração); e icaridina (ou picaridina), que protege por até 10 horas.
Suor e desidratação As temperaturas já elevadas do verão sobem ainda mais nos cordões da folia. Além dos aglomerados com milhares de pessoas, ritmos como samba, axé e frevo aumentam o gasto energético fazendo com que o corpo perca muita água e sais minerais pelo suor. Por isso, uma boa dica é levar uma garrafinha de água a tiracolo. Sucos naturais, água de coco e isotônicos também são ótimas opções para repor o líquido perdido. A atenção deve ser redobrada por quem consumir bebidas alcoólicas. A ingestão de álcool deve ser intercalada com a de água, o que mantém a pessoa hidratada e ajuda a prevenir a ressaca. “Mas evite consumir bebidas armazenadas em isopores sujos, com gelo não filtrado. Ambos podem ser veículos de transmissão da leptospirose, do vírus da hepatite A e de outros agentes que causam infecção do sistema digestivo”, frisa a médica.
Proteção contra o sol O protetor solar deve ser um companheiro inseparável dos foliões durante o Carnaval, quando a exposição ao sol geralmente é prolongada. Para evitar as queimaduras e o desconforto causados pela ação dos raios UVA e UVB, o produto deve ser reaplicado de acordo com a duração da proteção: quanto maior o FPS (fator de proteção solar), maior é a extensão da eficácia.
Alimentação Na maioria das cidades brasileiras, o Carnaval é comemorado 24 horas por dia. Com tantas opções de lazer, muitos foliões não fazem intervalos regulares para realizar as refeições. O descuido pode gerar fraqueza e, junto com o desgaste físico, debilitar o organismo. Para quem não quer perder tempo, mas também não quer abrir mão da saúde, uma alternativa é caprichar no café da manhã. “Uma refeição bem equilibrada e nutritiva antes da folia, com proteínas, carboidratos, suco e leite, vai oferecer energia para o dia e também minimizar as consequências do consumo de álcool”, orienta Flávia.
Durante a folia, a médica também indica barrinhas de cereais, saladas de fruta e sanduíches naturais como opções de lanches bem leves. Mas é preciso cuidado com a procedência dos alimentos manipulados. “Na hora de comer na rua, atenção às condições de higiene. Quando a fome bate, aquela barraquinha da esquina pode parecer o melhor restaurante do mundo. Vale lembrar que alimentos preparados ou conservados em condições inadequadas de higiene podem oferecer grandes riscos à saúde”. Dentre os principais, a médica cita: hepatite A, gastroenterites, toxoplasmose, verminose e leptospirose.
Pés protegidos Garrafas de vidro e latas de bebidas descartadas indevidamente oferecem risco de infecção por tétano. A médica do CBMEVi chama a atenção principalmente das pessoas que gostam de brincar o Carnaval descalças e destaca a importância de todos manterem em dia a vacina contra a doença, que exige dose de reforço a cada 10 anos. Uma opção é a vacina tríplice bacteriana, que além do tétano protege contra a difteria e a coqueluche.
Segurança no sexo vai além da camisinha
Corpos à mostra, alegria em alta e excesso de bebidas alcoólicas. Em meio a tantos estímulos é difícil segurar a libido. Por isso, durante o Carnaval, aumenta o número de relações sexuais desprotegidas. Estudos mostram que grande parte dos jovens sexualmente ativos praticam relações sexuais sem utilizar métodos contraceptivos, incluindo, claro, a camisinha.
“O uso do preservativo é essencial. Ele previne da AIDS, das hepatites e de outras doenças sexualmente transmissíveis. Mas a falta de cuidado na hora de guardar a camisinha ou no momento de colocá-la pode comprometer a proteção. Portanto, estar em dia com as vacinas que protegem de doenças transmissíveis durante a prática do sexo é essencial”, indica a médica. A vacina do HPV, por exemplo, é fundamental porque o contágio pelo vírus do papiloma humano pode acontecer mesmo quando há uso de preservativo e ainda que não ocorra penetração. Se a parte da pele não coberta pela camisinha estiver infectada, há chances de contágio. A imunização contra hepatite B também é importante, já que a doença é transmitida por sangue contaminado e é cerca de 100 vezes mais contagiosa que a AIDS.
Para quem preferir viajar para locais frios Quem vai aproveitar o feriado do Carnaval fora do país também deve adotar alguns cuidados. “Os Estados Unidos enfrentaram um surto de sarampo em janeiro de 2015. Vírus não respeitam fronteiras, portanto, é importante estar com a caderneta de vacinação em dia. Antes da viagem, também é aconselhável passar por uma consulta de medicina do viajante, para buscar orientações específicas de saúde de acordo com o local a ser visitado e com a programação”, recomenda Flávia.
Como neurose não combina com Carnaval, as vacinas continuam sendo a forma mais eficaz de combater pelo menos as doenças imunopreveníveis. Nos casos em que não há esta possibilidade, vale uma boa dose de informação, bom senso e de cuidado redobrado, lançando mão de todos os recursos disponíveis. Afinal, o que todos queremos é somar muitos e muitos carnavais.
Comments